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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Depressão: A gripe da saúde mental

Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que 121 milhões de pessoas no mundo sofram da doença

Em uma sociedade moderna totalmente competitiva, onde a correria se torna presente no dia-dia das pessoas, é comum o estresse. Sentimentos de instabilidade e impotência somam-se, gerando um cenário cada vez mais comum: a pessoa alegre começa a ficar triste sem motivo aparente, e isso vai se tornando familiar a maior parte do tempo. O desinteresse pela vida e a perda de energia são inevitáveis, a concentração nas atividades cotidianas já não são a mesma. A insônia é praticamente diária. O apetite já não é suficiente para saborear o seu prato preferido. A sensação de inutilidade e culpa excessiva acaba virando frustração.


Esses são só alguns dos sintomas que uma pessoa normal, sem distinção, pode apresentar. A depressão não é somente um episódio de tristeza. Para a medicina, ela é uma doença grave, sistêmica e que afeta todo o organismo, podendo gerar até outras doenças sérias. Uma razão mais aceita para o seu desencadeamento é que ela é conseqüência de uma disfunção no sistema nervoso central que diminui e desequilibra as concentrações de dois neurotransmissores (a serotonina e a noradrenalina), substâncias que, em conjunto, regulam o humor e as funções cognitivas.


De acordo com dados estatísticos da Pesquisa nacional por amostra de domicílios (Pnad) realizado em 2003, no Brasil, 13 milhões de pessoas são deprimidas. As mulheres são afetadas duas vezes mais do que os homens. De acordo com essa pesquisa, 2/3 das pessoas que sofrem da doença não fazem o tratamento e a maioria desses pacientes irá tentar o suicídio pelo menos uma vez.


Com uma porção de dados alarmantes, fica nítido o espaço que a depressão vem ocupando. Também considerada uma doença clínica, chamada de doença da alma, a depressão tem caráter biológico e uma origem preponderantemente hereditária. De acordo com o psiquiatra Geraldo Francisco do Amaral, professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), mestre em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UNB), se uma pessoa tem predisposição genética, quando receber uma notícia ruim ou sofrer alguma perda, vai desencadear a doença. “A depressão sempre vai ter um fator biológico. Se um indivíduo não estiver predisposto a ter, não vai ter. Ela sempre tem um motivo”, pontua.


O período de identificação da doença varia de acordo com o histórico do paciente. “Cada caso é um caso. Entretanto, é necessário o diagnóstico de mais ou menos cinco sintomas. Mas, dois deles são necessários para identificar e discernir a depressão da tristeza: a variação de humor, que é a análise do estado emocional interno da pessoa e a anedonia – que é a perda de interesse e prazer pelas coisas”, afirma Dr. Geraldo Francisco do Amaral. Segundo ele, caso a pessoa não apresente nenhum ou só um desses sintomas, ela não tem depressão. Eles são considerados primordiais para a identificação da doença.

Tratamento
Para os psiquiatras, o tratamento é feito basicamente com o uso de antidepressivos. Mas, de acordo com o psiquiatra Dr. Geraldo Francisco do Amaral, a associação dos remédios com a psicoterapia, feita por psicólogos é um fator coadjuvante no tratamento dos depressivos.

Os antidepressivos demoram de 3 a 4 semanas para começar a fazer efeito e em alguns casos, não há eficácia absoluta. O psiquiatra esclarece que há uma redução de memória imediata e uma das únicas contra-indicações para o uso desse tipo de medicamento é para aquelas pessoas que estão fazendo tratamento para o fêmur.

De acordo com a OMS, pouco mais de 25% das pessoas afetas pela doença no mundo recebem o tratamento adequado. No Brasil, esse índice só não é maior devido à falta de preparo de uma parcela de profissionais de saúde em reconhecer os sintomas da doença e encaminhar os pacientes para o tratamento adequado.


Prevalência
Dados estatísticos apontam que uma em cada 5 mulheres têm depressão. De acordo com a psicóloga Dr. Ilma A. Goulart de Souza Britto, professora do departamento de psicologia da UCG e mestre em Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento pela UNB e doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), as mulheres são mais predispostas a ter depressão devido aos fatores hormonais. A interferência dos ciclos hormonais é importante, mas não é essencial, se não todas as mulheres seriam deprimidas. “Cada história é diferente. Cada pessoa é única. É importante uma análise funcional para o entendimento da depressão, pois ela é uma doença relacionada à vida. O que a pessoa está vivendo, o que ela já viveu”, analisa. De acordo com a psicóloga, a depressão não é uma “doença mental”, é o efeito da interação que uma pessoa tem com o seu mundo.

As mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens. De acordo com dados da Pnad, de 2003, a depressão atinge 15% a 20% das mulheres e 5% a 10% dos homens. Para o psiquiatra Dr. Geraldo Francisco do Amaral, as tensões hormonais são relativamente influentes para essa prevalência de mulheres com depressão. Para a psicóloga Dr. Ilma Goulart, algumas mulheres são mais sensíveis as flutuações hormonais, mas é muito mais relevante para o surgimento da doença a existência de um histórico familiar ou pessoal de depressão.


Depressão e a vida moderna
O excesso de velocidade com que as pessoas levam a vida hoje em dia é fundamental para os problemas surgirem. A sociedade e a mídia estereotipam certos tipos de padrões que devem ser seguidos a risca para que se tenha boa aceitação em qualquer ambiente. Para a psicóloga Ilma Goulart, as pessoas se comportam de modo a evitar o indesejável e sempre conseguir o desejável. Ela acredita que os casos de depressão vêm aumentando devido as dificuldades da vida moderna, e que por mais que tudo pareça simples, há uma maior cobrança em tudo que fazemos.

“A vida está cada vez mais difícil. Os custos de vida cada vez mais altos e os salários não seguem o mesmo ritmo de aumento. A vida exige sempre um repertório de comportamento assertivo, o enfrentamento das adversidades”, conclui a psicóloga Dr. Ilma Goulart.

Para a Presidente do Conselho Regional de Psicologia de Goiás e Tocantins, a psicóloga Heloiza Helena Massanaro, os modelos rígidos de padrões impostos pela sociedade acabam gerando muito sofrimento. “Sofrimento não só por aquilo que as pessoas sofrerem – o luto, o desemprego, uma perda amorosa -, mas sofrimento pela culpa de estar triste em um mundo moldado para a alegria”, observa.

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