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quarta-feira, 10 de junho de 2009

Flanelinhas: pagá-los ou não? Eis a questão

O barulho é elemento fundamental do trânsito. Buzinas, freadas, música alta ou até mesmo gritaria. Talvez esse seja o cenário que compõe um ambiente público em que todos circulam, motorizado ou a pé. Tempo curto, vagas lotadas, estacionamentos caros... Mas, os brasileiros existem para tentar resolver tudo com o seu famoso “jeitinho”. Em quase todas as esquinas, principalmente de vias públicas, há sempre alguém acenando e dizendo: “Coloca aqui, ainda tem vaga!”. Os famosos flanelinhas estão por todos os lados. Prometem olhar o carro e asseguram que ali ele estará protegido. Alguns se oferecem para lavá-lo, mas, claro, com uma recompensa.

É o caso de Thiago Ribeiro, 26 anos, que ultimamente deu prioridade a olhar carros nas feiras de Goiânia. “Quando a feira está movimentada, dá pra tirar até R$ 60,00 no dia. Se por acaso tem um cliente que não quer pagar, há outros mil que querem. Fica a critério de cada um, eu não obrigo ninguém e olho o carro do mesmo jeito”, assegura.

Muitas pessoas não concordam com o trabalho deles, pois dizem ser desnecessário e, até mesmo, constrangedor. “Eles são inconvenientes, inoportunos. Ficamos quase que obrigados a pagá-los, porque eles chegam e já falam que vão olhar o carro, nem pedem mais. E se eu não pago posso ter meu veículo arranhado.”, afirma o estudante Alex Rodrigues.

Apesar de todas as acusações, os flanelinhas negam qualquer dano que possa ocorrer no veículo. Mas, o advogado Abdon Ferreira Neto já teve o carro danificado na porta de um banco. “Eles amassaram as duas placas, dianteira e traseira, viraram um `L´, literalmente”, comenta.

A maioria dos entrevistados não gostam desse tipo de serviço, e pensam que eles deveriam procurar outro tipo de trabalho. “Alem de incomodar quem quer estacionar o carro, eles sofrem muitos preconceitos e eu não acho isso uma coisa legal. Meu carro é segurado e isso é uma preocupação a menos para mim. Portanto, a presença deles no meu caso, torna-se inviável.”, justifica a fisioterapeuta Cecília Rosa.

Se por um lado são impertinentes, por outro, estão trabalhando. O desemprego seria ainda maior se eles não estivessem nas ruas, mesmo que usufruindo de bem público. A questão social engloba outros fatores ainda mais graves, como a violência, que, segundo o advogado Abdon Neto, se torna mais forte quando os números de desemprego aumentam.

A Polícia Militar vem realizando o cadastramento dessas pessoas, a fim de estabelecer o local certo em que cada pedinte atua, além de distingui-los de pessoas que não sejam de boa índole. Para aumentar a sensação de segurança da população, a PM, em parceria com a Rede de Apoio a Segurança (RAS), implantou o uso de coletes de identificação. Mas muito ainda preciso ser feito. É o que diz o flanelinha, conhecido como Zé do Cabelo, que é vigia há 6 anos. “Sou cadastrado pela polícia, eles falaram que nós usaríamos um colete de identificação e até hoje não me passaram nada.”, afirma.

Apesar de todos os contras da profissão, Alex Dias, 19 anos, a defende. “Eu poderia estar roubando, mas prefiro trabalhar honestamente. Não peço dinheiro, vai da consciência de cada um. Se vejo alguém tentando roubar o som, ou mexer no carro, vou direto falar com a pessoa ou então chamo a polícia. Muita gente já me agradeceu por isso e hoje é meu cliente.”

Em meio a tanta polêmica, eles sempre estão nos grandes centros, mesmo estando certos ou errados. Para proteger? É o que garantem. Se cumprem sua função? “Corremos risco para isso!”, garante Tiago dos Santos, que só vive disso há 3 anos.

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