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terça-feira, 9 de junho de 2009

"Se tiver uma cor, é cinza"

No último post, falei sobre a depressão e enumerei dados para justificar o título alarmante que coloquei. Agora, segue o desdobramento de casos em que essa doença torna-se vulnerável



Depressão feminina
Uma das características da doença é o seu caráter indistinto e democrático, ou seja, pode atingir qualquer indivíduo. Entretanto, como já foi colocado, as mulheres em suas diferentes fases da vida, podem estar mais propensas a despertarem a doença. Algumas dessas fases são: na TPM (Tensão Pré Menstrual), na gravidez, depressão pós-parto, na menopausa, em adolescentes e em mulheres vítimas de violência doméstica.
Cada fase tem um motivo fundamental para que cada mulher esteja mais vulnerável à doença. Entretanto, cada pessoa é única e pode ter reações diferentes em cada um dos casos citados.
A TPM é um prato cheio para as mulheres mudarem de humor. E é nessa fase que 70% delas podem ter, em algum momento, a chamada Síndrome Pré-menstrual. Sendo assim, 20% delas irão se deparar com a forma mais severa dessa manifestação, sendo necessário o acompanhamento médico, já que elas ficarão mais suscetíveis a desenvolver a depressão. No entanto, em 10% dessas mulheres acontecerá o transtorno Disfórico pré-menstrual. Nesse caso, os sintomas são bastante incapacitantes, havendo mudança de comportamento abrupta. Tornam-se freqüentes a agressividade, os casos de binge (ingestão alimentar excessiva), desânimo e a dificuldade em obter prazer nas atividades habituais, incluindo nas relações sexuais, com a diminuição da libido.
A gravidez também é fator relevante para o desenvolvimento da doença. Dados mostram que 36% das mulheres que têm depressão durante a gestação, desejaram a gravidez e na maioria dos casos, ela persiste depois do parto, gerando a depressão pós-parto, que atinge de 15% a 20% das mulheres e pode começar na primeira semana após o nascimento da criança e perdurar até dois anos.
As pesquisas indicam que grávidas de múltiplos têm 43% mais risco de sofrer de depressão pós-parto devido ao estresse causado pela responsabilidade de cuidar de vários bebês ao mesmo tempo. Isso pode influenciar na amamentação do recém nascido, que podem ter o aleitamento materno interrompido antes do período indicado.
Até mesmo o processo de fertilização in vitro é associado ao maior risco de depressão, uma vez que as altas doses de hormônio necessárias para a inseminação artificial podem alterar o humor das pacientes, além da expectativa com o tratamento gerar uma grande ansiedade.
A menopausa, que geralmente se inicia entre os 50 e 52 anos também aponta vulnerabilidade para a doença devido às mudanças nos níveis de estrogênio (hormônio feminino). Por esse motivo, as mulheres idosas têm mais chance de sofrer de depressão do que os homens.
Já as adolescentes do sexo feminino são mais facilmente atingidas por questões relacionadas à aceitação pessoal. A busca pelo corpo perfeito e as frustrações comuns as adolescentes levam a desenvolver a doença. Nesse público, a faixa etária mais atingida está entre 15 e 19 anos de idade e o suicídio é a segunda principal causa de morte entre adolescentes.
Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará comprovou que mulheres que sofreram violência doméstica têm mais chances de desenvolver quadros de depressão. Isso é explicado pela psicóloga Dr. Ilma Goulart, pelo fato de a depressão estar ligada à dificuldade que a pessoa está vivendo ou já viveu.
A estudante Maria Paula dos Santos, que foi curada da doença há dois meses, afirma: "Se ela tem uma cor, é cinza. Não sei explicar o que sentia. Tudo ao redor fica ruim. A vontade de desligar desse mundo é imensa".

Depressão no trabalho
A depressão também pode ser motivada por fatores ambientais externos. Assim, é comum a depressão no local de trabalho. Aquelas pessoas que são expostas a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a sua jornada de trabalho e no exercício de suas funções estão sofrendo de assédio moral. Normalmente essa situação se dá nas relações hierárquicas autoritárias, em que predominam condutas negativas.
A mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Católica de Goiás (UCG) e especialista em neuropsicologia, também pela UCG, Andréa Batista Magalhães diz que o assédio moral agride uma parte que temos muita resistência de falar, que é o lado emocional. Ela também complementa que a sua identificação se revela por atitudes ou gestos, desprezo, menosprezo, esquecimento, perseguição e desqualificação da vítima, gozação ou brincadeira. “Em geral, a vítima sente-se isolada e fragilizada, se culpa e por isso se defende mal. Esse problema deve ser tratado com seriedade porque pode levar a depressão devido à exaustão emocional, a perda do interesse e a questões fisiológicas que o trabalhador é submetido”, esclarece.
Entretanto, as mulheres são mais humilhadas e expressam sua indignação através do choro, tristeza, ressentimento e mágoa. Já os homens, sentem-se revoltados, com raiva, traídos e com desejo de vingar. Ela atribui essa diferença de comportamento, à própria natureza do gênero. “Além das questões hormonais, a própria estrutura de personalidade e a flexibilidade cultural que a mulher tem para o sofrimento é muito maior que a do homem”, argumenta a psicóloga Andréa Magalhães, que também é assistente técnico de psicologia da UCG, exercendo suas atividades no Departamento de Recursos Humanos.
Além das várias conseqüências que o assédio moral traz para a vida emocional e afetiva da pessoa, ele pode causar danos à saúde física e mental, levando a vítima a degradar a sua condição de trabalho e sua qualidade de vida.
De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela médica do trabalho do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Plásticas de São Paulo, Margarida Barreto, 80% das pessoas que sofrem assédio moral sentem dores generalizadas, 45% tem aumento da pressão arterial, 60% sofre com palpitações e tremores e 40% tem redução da libido (a qualquer tipo de prazer).
A psicóloga Andréa Magalhães orienta as pessoas que estão sendo vítimas desse tipo de assédio a anotar os dias e horários das agressões, tentar juntar provas documentais e testemunhas, conquistar aliados e procurar ajuda psicológica e também aconselhar-se juridicamente para que o problema seja sanado.
As profissões mais sujeitas ao efeito dessa depressão são aquelas relacionadas a serviços operacionais, em que o trabalhador não enxerga o resultado do seu trabalho, profissionais da área administrativa, que realizam atividades muito repetitivas e burocráticas e profissionais que estão em um ambiente de trabalho onde há constante ameaça de demissão, principalmente aqueles que trabalham com vendas, que tem que atingir metas.

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